Oi. Tenho 36 anos de idade e estou tentando engravidar há alguns meses. Estou aqui para compartilhar a minha jornada de tentante, falar sobre fertilidade e abortos, temas que descobri serem muito pouco discutidos. Não sei se por tabu, vergonha, culpa ou simplesmente medo de julgamento ou incompreensão. Sei que EUZINHA sinto um pouquinho de tudo, quando não um montão.
Descobri, por experiência própria, que falta apoio. Falta espaço para falar sobre o tema. Falta informação sobre como apoiar alguém que está tentando ser mãe.
Gravidez: menos comum do que parece
Cresci achando que ficar grávida era fácil. A educação sexual nos anos 90, em um colégio de freiras, era basicamente inexistente. No máximo uma revisão da anatomia dos órgãos reprodutores e um pouco sobre genética na aula de biologia. Para mim, bastava você não querer ser mãe, esquecer o anticoncepcional um dia ou o qualquer método no outro e boom: bebê no forninho!
A verdade é dura mas é esclarecedora. De cada 10 mulheres tentando engravidar em 1 mês, apenas 2 conseguirão. O fato é que para gerar uma vida muitos planetas precisam se alinhar. Desejada ou não, uma nova vida é um pequeno milagre. Para alguns vêm com mais facilidade, para outros nem tanto. E para os que não, o caminho a percorrer pode vir cheio de angústia, carga mental, e dependendo do caso, dor física.
Descobri, por experiência própria, que falta apoio. Falta espaço para falar sobre o tema. Falta informação sobre como apoiar alguém que está tentando ser mãe.
Tentantes na TV
Nas novelas e filmes é comum falar sobre a gravidez na adolescência, a gravidez indesejada, e a impossibilidade completa de ter filhos — esterilidade. Mas sobre a jornada da busca, há muito pouco. E normalmente estas histórias sempre acabam em uma adoção fácil e feliz, o que também é uma ilusão.
Na minha série favorita do mundo, FRIENDS, acompanhei a história da Mônica e do Chandler que descobrem que não podem ter filhos e terminam adotando. Na mesma série, também assistimos à gravidez quase impossível da Rachel, após uma noite de sexo PROTEGIDO com Ross.
Assistindo How I Met Your Mother pela segunda vez depois de uns 10 anos, estou revendo a história de Lily e Marshall na busca por se tornarem pais e a consequente neurose de ambos, retratada de maneira bastante cômica nas temporadas 6 e 7.
Em Trying, Nikki e Jason embarcam na árdua jornada da adoção. É a primeira vez que eu vejo uma série mostrar com um pouco mais de detalhes o processo, a papelada, a burocracia e a dificuldade de adotar uma criança, que se dirá um bebê.
Mas eu, aqui no meu mundinho, preciso de alguém para compartilhar, alguém que esteja vivendo algo parecido comigo, que me entenda, chore comigo as perdas e celebre comigo as pequenas conquistas. Ainda que nos identifiquemos com uma história ou outra, é TV. Não é rede de apoio! As neuroses, tristezas e medos são discutidos de maneira bem superficial. E a Mônica, a Lily e a Nikki não têm como vir aqui me abraçar ou oferecer uma palavra de apoio. E mesmo que meu marido esteja aqui, tentando engravidar junto comigo, ele é homem e não tem como entender tudo o que se passa dentro da cabeça e do corpo de uma mulher.
É difícil escutar “relaxa, tudo acontece na hora certa” ou “quando você parar de buscar e pensar no assunto, vai vir” por que nem sempre é o caso. Mas é verdade que stress, ansiedade e neurose não ajudam ninguém!
Redes de apoio na internet
Cheguei a ficar grávida duas vezes, e perdi de maneira precoce as duas vezes. Mas nestes poucos dias que estive grávida, baixei as aplicações Gravidez+ da Philips para iPhone e Android, e BabyCenter. Nelas, descobri forums onde muitas mulheres compartilhavam suas vivências. É confortante, mas ao mesmo tempo são redes fomentadoras de medo e ansiedade desnecessária.
E é fácil ficar neurótico navegando pelos tópicos #tryingtoconceive no Instagram também. Mas ficar bitolada é a última coisa que você precisa. É difícil escutar “relaxa, tudo acontece na hora certa” ou “quando você parar de buscar e pensar no assunto, vai vir” por que nem sempre é o caso. Mas é verdade que stress, ansiedade e neurose não ajudam ninguém!
Manter as aplicações no meu celular, depois das duas perdas, também não fazia sentido. Era uma lembrança constante de que o meu bebê do tamanho de uma semente de papoula, já tinha parado de se desenvolver.
Também uso o app My Calendar para controlar meu ciclo e meus sintomas. Nele também existe um forum, mas em inglês apenas. Então busquei blogs como este e não encontrei.
Por isso, estou aqui! Escrever sobre o assunto é uma terapia pra mim. E espero que compartilhando minha jornada, eu esteja ajudando alguém que passa por algo similar. Se você está aqui e está lendo isso, sinta-se abraçada e acompanhada.
Atualização de 12/10/2022—Novidade: Podcast Mil e Uma TrETAS
Há pouco mais de um mês, Julia Faria (@juliafaria) e Thaila Ayala (@thailaayala) se uniram para produzir e conduzir o videocast Mil e Uma TrETAS com o objetivo de levar um novo olhar sobre a maternidade para a maior quantidade de mães (e tentantes) possível. Os episódios vão ao ar todas as segundas-feiras, às 19h no YouTube e no Spotify. E você também pode acompanhar as novidades e posts pelo Instagram.
No episódio #05 “Perdi meu bebê” — assista aqui, publicado no dia 3 de Outubro de 2022, escutamos as apresentadoras compartilharem suas experiências e seus pontos de vista, bem como de Fernanda Paes Leme (@fepaesleme) e a autora e atriz Monica Martelli (@monicamartelli).
2 Comments
Add Yours →Olá, primeiramente, receba meu abraço.
Estou tentando há poucos meses, mas concordo com o que vc disse que crescemos com a ideia de que engravidar é tão fácil que quando iniciamos nossas tentativas e nosso positivo não chega a frustração vai crescendo a cada mês.
Tento me apegar nesse “na hora certa vai acontecer”. Mas confesso que é muito difícil!! Principalmente quando as pessoas em volta, sem saber que já estamos tentando, perguntam quando virá o bebê, como se engravidar fosse como apertar um botão…
Enfim, força pra nós!!
Oi Jess, obrigada pelo seu comentário! Totalmente!!! A frustração vai aumentando mesmo e a pressão externa não ajuda em nada. 🙁 Sinto que existe muita vergonha também em dizer “estamos tentando, mas não estamos conseguindo”. Não sei se é por medo de deixar o outro constrangido, ou por vergonha da “infertilidade”. Mas independente do que seja, sinto que ambos “medos” precisam ser superados. Talvez a pessoa que cobra a gravidez não tenha a menor ideia do quão difícil pode ser, porque pra ela/e foi fácil, ou porque nunca tentou, e aprender vai ser muito útil. Ou talvez, o simples fato de compartilhar a frustração de uma tentante, permita saber que na outra pessoa, também existiu um tentante frustrado em algum momento cheio de experiências para compartilhar. CONVERSEMOS MAIS! 🙂