Como apoiar uma amiga, colega ou paciente que sofreu uma perda gestacional

Falemos sobre perdas gestacionais e frases que escutamos de forma recorrente como forma de apoio:

É muito mais comum do que parece

Fulana também perdeu e logo em seguida teve um bebê lindo e saudável

Pelo menos você sabe que pode engravidar

Relaxa que aí vem

Tudo acontece na hora certa

Quem diz essas coisas não tem nada além de boas intenções. Mas às vezes, há dores que precisam ser doídas, e não aliviadas… Faz parte do processo de recuperação!

“Aliviar” a situação na tentativa de confortar pode facilmente ter o efeito contrário. Porque, sem querer, menospreza a importância e a profundidade do sentimento da perda desta quase mãe. Independentemente da idade gestacional… Sejam quatro semanas, seis, oito, doze… Meses… O tamanho da dor não é equivalente ao tempo de gravidez, mas ao tamanho da expectativa que a aquela gestação gerou.

Óbvio, que quanto maior o tempo de gestação, as expectativas também vão aumentando, e talvez o tempo necessário para se recuperar também, até por questões químicas e físicas. Mas a verdade é que não tem padrão. Cada mulher é única e únicas são as suas emoções e suas reações… Só tem uma coisa que é comum a todas: nenhuma gosta de se sentir sozinha, insegura e incompreendida nestes momentos.

Apoiar acompanhando

O melhor que podemos fazer por uma mulher nessas horas, é escutar sem julgar, dar um abraço apertado—ainda que virtual, e permitir que ela se sinta triste, mas não sozinha.

Não tenha medo de perguntar o que ela está sentindo, como ela vai, e principalmente, de abrir espaço para que ela exponha seus medos e inseguranças. Certifique-se de que ela sabe que você sempre estará lá para escutá-la—e que, de novo, ela não está sozinha (não no sentido de que ela está acompanhada de um monte de outras mulheres na mesma situação, mas de que ela tem o seu apoio para superar qualquer barra).

Perda gestacional, um grande tabu

Em geral, o ser humano tem medo de tocar na “dor” dos outros, por que não sabe como reagir ao sofrimento alheio. Tem medo de constranger o outro, porque na verdade é quem se sente constrangido. Assim são os TABUS. É muito mais fácil falar de amenidades para “distrair” a pessoa com a desculpa de que ela precisa “não pensar no que acabou de acontecer com ela”, quando no fundo, a única coisa que ela precisa mesmo, é colocar toda a dor para fora, antes que esta lhe consuma. É falar sobre suas inseguranças, antes que seus medos tomem conta da sua vida, do seu trabalho, do seu relacionamento.

Quando aconteceu comigo foi impossível não me questionar…

“Sera que é/foi minha culpa?
Será que eu podia ter feito algo diferente para evitar?
Será que há algo de errado comigo que eu ainda não saiba?
Será que há algo de errado com o pai?
Será que vai acontecer de novo?
E se a gente não puder ter filhos mais? O que vai ser do meu casamento?”

E estas são apenas algumas das inseguranças que surgem. Tantas outras coisas passam pela cabeça nessas horas…

Construindo redes de apoio

Se você conhece alguém que perdeu, ou que está tendo dificuldade em conceber, não se se sinta constrangida(o), não tenha medo de tocar no assunto e de perguntar: “Como você está com tudo isso? Precisa de alguém pra trocar ideias e conversar? Estou aqui sempre que precisar, de verdade!”

Este apoio sim, faz toda a diferença do mundo!

E se você está passando por esta situação e está se sentindo sozinha, não tenha medo de contar o que está sentindo para uma amiga, irmã, prima, etc. 🙂 Ou então, comenta aqui que eu sou toda ouvidos. Ou ainda, considere buscar um psicólogo especializado no assunto. Recentemente uma amiga minha, psicóloga, compartilhou o perfil de Instagram da Aline Borges (@alinebpsicologia) centrado neste tema. Bem legal!

Ah, e por último, mas não menos importante… Não tenha receio de consultar com outro/a profissional de ginecologia, reprodução assistida ou obstetrícia se não se sentiu acolhida pelo seu atual médico ou médica! O importante é que você se sinta cômoda e acompanhada durante TODO o processo e tenha uma boa rede de apoio ao seu alcance.

#tamojunto

2 Comments

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Lembro que da minha última perda recebi a visita da minha prima. Ela sentou na ponta da minha cama e ficou em silêncio. Depois ela segurou minha não e ainda permaneceu calada. O apoio dela pra mim foi inesquecível.

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