Minha primeira gravidez, meu primeiro aborto

Até pouco tempo, gravidez e aborto eram assuntos que eu não julgava necessário discutir com ninguém. Mas cá estou eu, e você vai entender porquê.

Há alguns meses, por recomendação da minha cunhada, fui a uma consulta com a Fanny. Ela abre Registros Akáshicos, faz Reiki e… tem visões. Enfim, é uma pessoa de forte sensibilidade espiritual. Na primeira sessão que fizemos, em nenhum momento contei pra ela que eu e meu marido estávamos tentando conceber um bebê.

Na segunda sessão, lá estava eu… Deitada, super relaxada, enquanto ela re-canalizava as minhas energias. De repente, senti uma enorme fonte de energia saindo do meu peito e outra do meu ventre. Terminamos a sessão e ela falou “Tem um bebê dando voltas por aqui.”

Naquele imediato segundo minha alma sorriu e quase não contive a alegria. Será que eu estava grávida? Me controlei e respondi com calma “Estamos tentando, mas por enquanto nada.”

Este dia, exatamente, fazia mais ou menos uma semana desde que eu havia ovulado pela última vez. Pensei comigo mesma… Se eu já acreditava na Fanny antes, e estiver grávida mesmo, não haverá como negar a existência de uma dimensão espiritual!

Semana 5 dia 1: Sintomas de gravidez

Uma semana depois comecei a sentir muitas náuseas, de quase vomitar, e uma aversão intensa a laticínios. Eu tinha CERTEZA de que estava grávida. Fiz um primeiro teste de farmácia e deu negativo. Esperei dois ou três dias e fiz outro teste e recebi um positivo bem fraquinho. Uma linha bem clarinha! Olhando as instruções do teste, aprendi que sendo a linha clara ou escura, aquilo era um sinal de que hCG suficiente foi detectado na minha urina e que eu tinha um POSITIVO na mão.

Meu coração se inundou de alegria e fui imediatamente buscar o meu marido pela casa para dizer que estava grávida. Chamei a minha ginecologista/obstetra e ela me passou exames de sangue para fazer. Como eu ia viajar de férias e estar fora do país durante três semanas, queríamos nos certificar o quanto antes de que estava tudo bem.

Semana 5, dia 6: Sinais de aborto

Na noite do que, pelas minhas contas seria semana 5 + 6 dias de gravidez, eu senti algumas cólicas leves. Já fiquei um pouco preocupada e escrevi para a minha médica perguntando se era normal. Ela não me respondeu. Fui fazer o exame de hCG sanguíneo como ela havia pedido e na volta a cólica leve persistia. Fui fazer xixi e me deparei com uma pequena mancha de sangue vivo no papel.

Escrevi novamente para a médica e quando ela finalmente me respondeu eu já estava sangrando muito mais, com uma cólica tão intensa como nunca havia sentido na vida. A tristeza tomou conta do meu ser. Eu estava tendo o que seria a minha primeira perda gestacional precoce. Um aborto.

O resultado do hCG logo demonstrou que a minha gravidez era inconclusiva. Meu nível de hCG estava alto demais para confirmar um negativo e baixo demais para confirmar uma gravidez. O segundo teste que fiz 48h depois, já deu negativo.

Terminologias insensíveis

Eu havia tido o que chamam de gravidez química, e consequentemente, um aborto químico. Para quem não sabe, uma gravidez somente passa a ser considerada clínica a partir do momento em que o saco gestacional e o embrião são detectados na ecografia.

Eu odeio esta terminologia. Ela menospreza o intenso amor e sofrimento que senti no transcurso de uma semana e meia. Ela reduz todos os meus sintomas de gravidez e o meu desejado bebê a pó… químico.

Sei que não estou só neste barco. Navegando pelos forums da vida, vi relatos de muitas mulheres que perderam seus bebês antes que pudessem vê-los em um exame de imagem. Pergunte a elas e te garanto que nenhuma considerará este aborto diferente de qualquer outro. Aborto é aborto e ponto final. Aborto dói na ALMA, te enche de dúvidas e medos.

Meu segundo aborto

Infelizmente após esta perda, tive uma segunda. Só que desta vez, descobri antes de sangrar, e passei uma semana a mais sentindo sintomas de gravidez sabendo que o desenvolvimento do embrião já havia cessado. Surgiram ainda mais dúvidas, mais medos e muita desconfiança de mim mesma. E a verdade é que, um mês depois, sigo em recuperação, com mil perguntas na cabeça:

• Será que poderíamos ter feito algo diferente com relação a nossa fertilidade?
• Poderia a minha ginecologista ter sido mais empática quando lhe contei?
• Será que eu devo trocar de profissional?
• Será que outro profissional escolheria começar a investigar possíveis causas já? Causas além dos meus exames de sangue e hormonais, cujos resultados estão perfeitos…
• Ou será que eu somente tenho que aceitar e seguir acreditando?

Proximamente falarei mais sobre aborto, o quanto é comum, o quanto todos insistem em usar este dado como forma de conforto, e o quanto isso não muda em nada a dor da perda e a profunda insegurança que ele causa.